FAZER AMOR
Como é que se faz amor?
O que se faz é arroz,
ovo frito, macarrão; amor, não.
No caderno da vovó
tem receita de bobó
e até de doce de jiló
(e de berinjela também)
mas, de amor, garanto, não tem.
Amor não se faz na cama;
na cama, se faz xixi.
Isso, em neném, eu vivi
mas amor nunca fiz, não.
Na cama, se ronca
e se leva bronca!
Dentro dos laboratórios,
os cientistas, vários,
entre bicos de Bunsen,
tubos de ensaio
e pipeta, nunca fizeram
amor de proveta.
O amor não se fia.
Nem Glória e nem Maria
conseguem tecê-lo,
apesar do zelo ao fiar.
Engenheiro e arquiteto,
com todo conhecimento
(tijolo, concreto,
projeto, cimento)
não conseguem edificá-lo:
é impossível o intento!
E tudo vai para o ralo...
O amor, então, desperta?
Quieto! Deixe o menino
(o arqueiro pequenino)
dormindo com seu travesseiro
de nuvem;
flecheiro míope nascido,
anjo de candura
e penujem. Anjo de travessuras, isso sim!
Amor não se faz, nasce feito;
é um dever e um direito,
não tem prefeito e nem senhor.
Amor é dado, é de graça,
é beijo de moça na praça.
O amor? Ah, o amor...
ANTÔNIO CARLOS POLICER
BIOGRAFIA:Antônio Carlos Policer é graduado em Letras e pós-graduado em Semiótica e Análise do Discurso. Policer iniciou sua produção aos onze anos de idade. Escreve à luz da semiótica, o que já fazia e maneira intuitiva. Em 2021, publicou seu primeiro livro de poemas, intitulado “(in)”. Prepara, além de outro livro de poemas infanto-juvenis, um livro de poemas infantis pautado nas hipóteses de escrita da pedagoga argentina Emilia Ferreiro.
PEQUENA RESENHA DO LIVRO:
Em “(in)”, o poeta imprime toda sua versatilidade. Na primeira parte temática do livro, “coisica pouca”, o poeta, valendo-se da semiótica, explora todos os estratos possíveis do signo linguístico, apresentando poemas curtos – por vezes, monósticos com apenas uma palavra – imprimindo polissemia e concisão aos textos. Na parte segunda, “admoestação pública”, o poeta utiliza as mesmas técnicas da parte anterior, porém as críticas recaem sobre a administração pública. Na última parte, “de onconha”, os textos são mais líricos e difusos. O último poema do livro, “Fazer amor”, é um prenúncio do que o poeta imprimirá na sua próxima obra, ainda em fase de produção.
0 Comentários:
Postar um comentário
Preencha o formulário e badabim badabom!