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Carmem Miranda e Assis Valente |
Prantos Psicodélicos Verde e Amarelo
A proposta criativa de Letrux é fascinante. As letras são uma construção de elementos simples do cotidiano com fragmentos de loucura, surrealismo e psicodelia. Letrux transita elegantemente do trágico ao cômico sem perder a coerência. A primeira faixa que ouvi dela foi a dançante "Flerte Revival" do álbum "Letrux em noite de Climão" (2017). O videoclipe de "Flerte Revival" foi a isca, depois de ouvir inúmeras vezes, tratei de buscar mais informações a respeito da cantora.
Tem outras duas faixa do álbum "Letrux em noite de Climão" que são bons destaques como a frenética "Vai Render" e "Ninguém perguntou por você".
Voltei com Elegância para Mim
"Paixão é raio que
ilumina um segundo
Depois volta o breu
Achei tudo tão água
Mas voltei com elegância
para mim"
Boas canções são assim, comunicam com o seu estado de espírito. "Cuidado, Paixão", é também simplicidade, detalhes sinceros e coerência.
Cuidado Neném
Letrux não restringe apenas às composições musicais que já são por si só pura poesia. As produções visuais seguem o estilo surreal nos videoclipes e nas apresentação ao vivo. Cada performance traz o sabor dos seus refrões, como "Letrux em Noite de Climão", Letícia propõe misticismo, boemia nas vestes em tons avermelhados como um ritual, e segue envolvendo o público a testemunhar cada verso de pura loucura e emoção.
Ainda sobre a assinatura visual de Letrux, no videoclipe de "Cuidado, Paixão" que foi inspirado nos traços surreais de David Lynch, Letícia traduz em uma sequência de imagens o lirismo de puro amor e despedida.
A música popular brasileira é riquíssima. Tem música que se ouve e se esquece, tem aquela que carimba o coração, mas tem aquelas que reinventam o pensamento, constroem conceitos brincando de rimar. Assim é a "Canção Agalopada" de Zé Ramalho. Todo o misticismo e riqueza de trejeitos sertanejo, simbologias e névoas apocalípticas se reinventam nessa belíssima poesia de cordel na voz poderosa de Zé.
Cordel Profético
"Foi um tempo que o tempo não esquece, que os trovões eram roncos de se ouvir. Todo o céu começou a se abrir numa fenda de fogo que aparece"
A canção guarda em cada verso profecias de um poeta observador e ali diante de seus olhos escreve o que se vê e também o que se sente. No próximo verso, depois de narrar o cenário apocalíptico, os trovões hora anunciavam a chegada de alguém vindo dos céus, reforça o simbolismo bíblico que também marca presença com a menção do número 7.
"Sete vezes eu me ajoelhei na presença de um ser iluminado. Como um cego fiquei tão ofuscado ante o brilho dos olhos que olhei."
Visões misteriosas e seres iluminados! Te lembrou as visões de Ezequiel? Sabemos que as composições de Zé Ramalho possuem uma identidade rústica, sertaneja. E em "Canção Agalopada" temos a consonância da personalidade do músico, o místico, bruxo do cangaço brasileiro. Ele fala de amor, família, saudosismo de um modo folclórico, sobrenatural.
Martelo Agalopado
O Martelo agalopado, estrofe dez versos de dez sílabas, é uma das modalidades mais antigas na literatura de cordel. Criada pelo professor Jaime Pedro Martelo (1665 – 1727), as martelianas não tinham como o nosso martelo agalopado, compromisso com o número de versos para a composição das estrofes. Elas alongavam-se com rimas pares, até completar o sentido desejado.
Fonte: Academia Brasileira de Cordel
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