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O walkman da bruxa de hoje resgata um choro de um dos compositores mais célebres da música brasileira. Ele era ilustrador e jornalista baiano, recebeu uma homenagem mais que merecida, sua biografia abrilhantada em mais de 500 páginas. Assis Valente era considerado o compositor favorito de Carmem Miranda e ele não escondia a admiração pela cantora. Sem dúvida alguma, você já deve ter ouvido alguma composição dele, principalmente se o leitor já está quase batendo na casa dos trinta, "Cai, cai balão" é até hoje lembrada nas festas juninas. 

Carmem Miranda e Assis Valente
Dentre muitas composições destaco o choro "Camisa Listrada" que no auge tinha a grafia como "Listada". A canção foi escrita pra ela, sua musa, a pequena notável. Entre as minhas explorações em terras YouTubenses encontrei uma paranaense de voz inigualável, poderosa, era Simone Mazzer interpretando "Camisa Listada" com uma performance noir, trazendo uma ótica totalmente impar da canção de Assis Valente. 






 


Prantos Psicodélicos Verde e Amarelo


A proposta criativa de Letrux é fascinante. As letras são uma construção de elementos simples do cotidiano com fragmentos de loucura, surrealismo e psicodelia. Letrux transita elegantemente do trágico ao cômico sem perder a coerência. A primeira faixa que ouvi dela foi a dançante "Flerte Revival" do álbum "Letrux em noite de Climão" (2017). O videoclipe de "Flerte Revival" foi a isca, depois de ouvir inúmeras vezes, tratei de buscar mais informações a respeito da cantora.

Tem outras duas faixa do álbum "Letrux em noite de Climão" que são bons destaques como a frenética "Vai Render"  e "Ninguém perguntou por você".

 

Voltei com Elegância para Mim



Mas foi a faixa "Cuidado, Paixão" do álbum "Letrux aos Prantos (2020)" que fisgou meu coração. A letra narra de perto traços de um relacionamento inconstante. 

A falta de profundidade de uma paixão no que se compara com o brilho de um raio que depois volta ao breu. 

"Paixão é raio que 

ilumina um segundo

Depois volta o breu

Achei tudo tão água

Mas voltei com elegância 

para mim"


Boas canções são assim, comunicam com o seu estado de espírito. "Cuidado, Paixão", é também simplicidade, detalhes sinceros e coerência. 

Cuidado Neném


Letrux não restringe apenas às composições musicais que já são por si só pura poesia. As produções visuais seguem o estilo surreal nos videoclipes e nas apresentação ao vivo. Cada performance traz o sabor dos seus refrões, como "Letrux em Noite de Climão", Letícia propõe misticismo, boemia nas vestes em tons avermelhados como um ritual, e segue envolvendo o público a testemunhar cada verso de pura loucura e emoção.

Ainda sobre a assinatura visual de Letrux, no videoclipe de "Cuidado, Paixão" que foi inspirado nos traços surreais de David Lynch, Letícia traduz em uma sequência de imagens o lirismo de puro amor e despedida. 




A música popular brasileira é riquíssima. Tem música que se ouve e se esquece, tem aquela que carimba o coração, mas tem aquelas que reinventam o pensamento, constroem conceitos brincando de rimar. Assim é a "Canção Agalopada" de Zé Ramalho. Todo o misticismo e riqueza de trejeitos sertanejo, simbologias e névoas apocalípticas se reinventam nessa belíssima poesia de cordel na voz poderosa de Zé.




Cordel Profético

"Foi um tempo que o tempo não esquece, que os trovões eram roncos de se ouvir. Todo o céu começou a se abrir numa fenda de fogo que aparece"

A canção guarda em cada verso profecias de um poeta observador e ali diante de seus olhos escreve o que se vê e também o que se sente. No próximo verso, depois de narrar o cenário apocalíptico, os trovões hora anunciavam a chegada de alguém vindo dos céus, reforça o simbolismo bíblico que também marca presença com a menção do número 7. 

"Sete vezes eu me ajoelhei na presença de um ser iluminado. Como um cego fiquei tão ofuscado ante o brilho dos olhos que olhei."

Visões misteriosas e seres iluminados! Te lembrou as visões de Ezequiel? Sabemos que as composições de Zé Ramalho possuem uma identidade rústica, sertaneja. E em "Canção Agalopada" temos a consonância da personalidade do músico, o místico, bruxo do cangaço brasileiro. Ele fala de amor, família, saudosismo de um modo folclórico, sobrenatural. 


Martelo Agalopado


O Martelo agalopado, estrofe dez versos de dez sílabas, é uma das modalidades mais antigas na literatura de cordel. Criada pelo professor Jaime Pedro Martelo (1665 – 1727), as martelianas não tinham como o nosso martelo agalopado, compromisso com o número de versos para a composição das estrofes. Elas alongavam-se com rimas pares, até completar o sentido desejado. 


Fonte: Academia Brasileira de Cordel

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