Espero

 


A tentativa de se situar nas vagas viagens entre os minutos é caixa de luz para as ideias. Uma prosa, uma frase desconcertante, um adágio? Acomodo entre os degraus da escadaria que leva ao terceiro andar do prédio, cujo transeuntes assíduos optam pelo elevador. Uma caixa de sabão em pó elétrica condenada a movimentar-se para cima e para baixo, para cima e para baixo até esgotar-se durante a passagem de algum desafortunado.


Confiro o celular, a bateria acena partida, um adeus dramático. Cinco por cento, a notificação do esgotamento me ameaça para colocar o tal aparelho para carregar na tomada, se não fosse a solidão da escadaria dos degraus que levam ao terceiro andar, até seria possível, mas o celular age mesmo assim categoricamente, ele resiste, confia, ele resiste.


Finalmente a tão aguardada notificação aparece. "Seu pedido está a caminho" soa como uma aleluia aguda durante a espera eterna. Um sorriso silencioso ocupa o semblante.

- Débito ou Crédito? - Débito. Uma iguaria árabe, apesar de crua tem sua morosidade, cuidado do preparo, escolha dos ingredientes... Retorno com o jantar nas mãos e  sigo em rumo às escadas solitárias que vão para o terceiro andar.

Claíse Albuquerque | Crônica Autoral | 2022

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