Cordel 700 Luas De Aurineide Alencar




Lenda: 700 luas em cordel (32 sextilhas)

Aurineide Alencar, 02/01/2021




Há muitos anos atrás

No Mato Grosso do Sul

Vivia uma tribo próxima

À Gruta do lago Azul.

Para chegar até ela

Percorria-se um paul.



Essa tribo pertencia

A etnia terena

E nela havia uma jovem

Bastante meiga e serena,

Por Cacai era chamada

A moça desde pequena.



Devido a sua beleza,

Não faltava pretendente.

Até o próprio cacique,

Um jovem muito atraente,

Para arrumar companheira

Já estava bem ciente.



Ele foi logo escolhendo

A moça mais desejada

Para ser sua parêa,

Ficar com ela casada,

Sabendo que ela seria

Pra sempre bem amparada.



Ele convidou Cacai,

Que não fez objeção,

Pra fazer juntos um pacto

E não houve restrição:

O das 700 luas

Seguindo essa tradição.



Tempo em que o jovem casal

Passa pra se conhecer

Como se fosse um noivado

Que precisa acontecer,

Antecede ao casamento,

Todo jovem quer fazer.



Os detalhes quanto às núpcias,

O tempo de decidir,

Até mesmo os pormenores

Será preciso incluir

Pra que nada dê errado

Quando esse casal se unir.



Tudo estava bem tranquilo

E parecia dar certo,

O casamento dos jovens

A cada dia mais perto

Quando algo novo surgiu:

O rapaz ficou esperto.



Pois apareceu na tribo

Um jovem prisioneiro:

Era um galã corajoso

Também valente, guerreiro.

Já chegou e foi ficando

Mesmo sendo um estrangeiro.



Apesar do compromisso,

A Cacai se apaixonou

E das 700 luas

Ela sequer se lembrou.

Estava tão encantada

Pelo jovem que chegou.



Pra dispensar o cacique

Foi logo bolando um plano,

Diz consigo: — Eu digo a ele,

Que não passou de um engano.

A resposta é negativa,

Não espero nem um ano.



Falou ao chefe da tribo

Que jamais se casaria

E sobre o tal estrangeiro

Contou tudo o que sentia:

Somente casar com ele

Era o que ela pretendia



Mas o cacique ficou

Tristemente inconformado,

Dizendo: — Não vou deixar

Que destruam meu noivado.

Preparem o casamento

Conforme estava marcado.



Determinou para a tribo

Que houvesse esse ritual,

Todos agissem também

De forma bem natural

Pra que não acontecesse

Com a Cacai nenhum mal.



Dessa forma ele se opôs

À sagrada tradição

Dessa etnia terena.

Cacai sem ter opção

Foi entregue ao seu cacique

Pra cumprir sua missão.



E para seu desespero

Foi assim realizado,

O tal pacto da lua

Estava finalizado.

Era chegado o momento

Conforme foi planejado.



Com ele a palavra mágica

Foi ali pronunciada.

Assim a vida dos dois

Foi para sempre traçada.

Cacai manteve o silêncio,

Já não dizia mais nada.



Neste momento perdeu

Sua última esperança

De ficar com seu amado,

Mas pensou numa vingança.

Tratou de bolar um plano

Com bastante confiança.



Sem pensar na consequência

Que aquilo tudo traria

Pensou só na sua vida,

No momento da alegria,

Mas quebrando o ritual

Desenrolou-se a magia.



Qualquer mulher que quebrasse

O sagrado juramento

Teria, pois, que enfrentar

Consequências do momento:

Pagar com a própria vida

Ou viver em sofrimento.



Ninguém podia livrar

Da mulher aquela sina,

Era pré-determinada.

No seu tempo de menina,

Setecentas luas era

A celebração divina.



Qualquer mulher que quebrasse

O juramento sagrado,

Por uma flecha terena,

Já seria o combinado,

A mulher então teria

O coração traspassado.



E naquele mesmo dia

Que decidiram fugir

A Cacai e seu amado

Nem puderam pressentir

Que algo ali não deixaria

O belo casal sair.



Fugindo numa canoa,

Foi descendo o Rio Formoso.

Ele que estava bem cheio,

O seu leito tão garboso,

Construindo o seu trajeto

Num ritmo harmonioso.



Mas nesta hora o cacique

Seus guerreiros reuniu,

Ali naquele momento

A maldição se cumpriu:

Uma flecha envenenada

Seus corações atingiu.



Nisto o sangue de Cacai

No mesmo instante jorrado

Foi misturando-se ao rio

Junto com do seu amado,

Clareando suas águas

Pelo percurso traçado.



Para tanto aconteceu

Uma mudança supimpa:

A água do Rio Formoso

Ficou cada vez mais limpa,

Dizem que banhar-se nele

É certo que a alma alimpa.



A última gota de sangue

Que foi nele derramada,

Até nos seus afluentes

Sua água foi clareada.

Passou a ser cristalina

Embelezando a invernada.



Além da água do rio

Que se tornou transparente,

Na Gruta do lago Azul

É um tanto diferente,

Sua beleza nos mostra

O quão Cacai é contente.



Assim diz a lenda que

Quando a água está sombria

Mas se ficar mais azul

Indica com alegria

A presença de Cacai

Em toda a sua magia.



Dizem até que sussurros

É possível escutar

De Cacai com seu amado

Ali naquele lugar

Onde o casal imortal

Escolheu para morar.



No Mato Grosso do Sul

Lenda também é cultura,

O misticismo domina

Nos cenários de aventura

E nos mitos se destacam

As histórias de bravura.



Aurineide Alencar, 02/01/2021



Glossário

Paul: região repleta de água.

Parêa: casal, par. Alimpa: tornar limpo.


Sou Aurineide Alencar

Sou poeta Cordelista,

Eu tive grande conquista

No mundo do versejar.

O verso é meu respirar,

É minha vida, meu mundo,

Meu pensamento fecundo

Voa nas asas da rima,

A poesia me anima

De modo muito profundo.

2 comentários:

  1. Muito obrigada pelo apoio! Felicidades e sucesso sempre!

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    1. Eu agradeço tamanho riqueza da nossa literatura aqui na ZineBoom 💥🥰❤️

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