O sábado à
noite tem seu charme particular, depois das oito horas, todos os casais,
apaixonados ou não, povoavam as calçadas dos bares e as largas ruas vão ganhando
o aroma afrodisíaco dos caldos, hambúrgueres e outras comilanças oportunas do
sábado à noite. E entre os casais apaixonados ou não, estava Carmem, levemente
maquiada, folheando o menu da sobaria tipicamente oriental, enquanto André,
seu namorado verificava as notificações infindáveis do seu WhatsApp. Ela decidida, já havia escolhido o que iria pedir e
levantou-se.
- Vou ao
banheiro, já volto! Pegou a bolsa e saiu.
Ao lavar
as mãos, incomodou-se com o cheiro de cigarro que saia de uma das
portas, havia uma nuvem de fumaça cobrindo o banheiro. A moça continuou lavando as mãos, agora um
tanto nervosa e inquieta.
- Não
gosta do cheiro de cigarro? Perguntou um homem escancarando a porta com a ponta
do pé. Ela completamente assustada e muito furiosa, pegou a bolsa lançando em
direção ao homem.
- O senhor
deveria se envergonhar, safado! Vá fumar no banheiro da sua mãe, imbecil! E dá-lhe
bolsadas e pontapés.
A sobaria
estava lotada, um verdadeiro formigueiro, o entra e sai das garçonetes,
completavam as entradas do estabelecimento, mas nenhuma outra mulher precisou
usar o bendito banheiro naquele momento. O homem gargalhava esquivando-se dos
arremessos violentos e tapas da jovem. - Acalme-se mulher, por favor! Ofegante,
ela sentou no chão. O homem estendeu a mão, ofereceu ajuda. Ela notou
a beleza nipônica do jovem solicito vestido de preto, "Até que ele é bonitinho", pensou rapidamente, mas a
fúria tomou conta novamente de seus pensamentos. Carmem bufava.
-Sou
Hatsuo, peço perdão por assustá-la. Estou mor-tal-men-te
arrependido por ser o motivo de sua agonia. Ela estarrecida, olhava fixamente para o
rapaz falante. Encantada por aqueles olhos miúdos, e todo o ambiente perdia o seu
som, uma espécie de quietude se aproximava como a paz serena de um passeio
agradável em campos floridos, sem o farfalhar dos pássaros e dos pequenos insetos.
Não pensava em nada, inclinou a cabeça, sutilmente sorrindo, voltou a
realidade do banheiro vazio com a voz alta do rapaz vestido de preto, agora
gritando repetidamente, - “Moça, moça?
Carmem ficou de pé, arrumou os cabelos e voltou para a mesa buscando agir
normalmente, o que era praticamente impossível. Ela pretendia compartilhar o
incidente com André, chegou a decidir falar antes de sentar, mas mudou de
ideia ao notar que a atenção do rapaz pertencia somente ao importuno do celular. Mais uma vez.
Após o
silencioso jantar, o casal resolveu dar uma volta pela região central em busca
de alguma sorveteria ou qualquer outro canto que tivesse algo para adoçar o resto da noite. No sinal da Rui Barbosa com a Afonso Pena, a moça viu Hatsuo encostado
na parede de uma farmácia, o rapaz vestido de preto fumava seu cigarro e observava
os carros. – Deve ser garoto de prog...,
chegou a sussurrar, mas foi interrompida por André.
- Carmem?
Tô falando com você!
-
Desculpe, mas sobre o que você estava falando mesmo?
- É brincadeira,
você não está me dando um mínimo de atenção sequer! O que está acontecendo?
-
Atenção? Olha só quem fala, o rei da atenção! Você não larga o celular nem para
ir ao banheiro. Após a afirmativa de Carmem, uma atmosfera silenciosa e
inquisidora tomava conta da fatídica viagem. Voltaram para casa
introspectivos, ela decidiu admirar a paisagem já conhecida afim de evitar mais desgostos com André. O silêncio
reinou até a entrada do bairro Santa
Luzia onde a moça morava com os pais. André, a fim de deixar a namorada o mais
rápido possível escolheu um atalho. Pisou no acelerador afim de irritar a
menina e em uma curva, perdeu o controle, no meio da rua estreita, deparou-se
com um homem parado, era Hatsuo impedindo a passagem, mas a figura havia desaparecido
em um piscar de olhos. André não teve tempo de frear, capotou o carro três
vezes antes de colidir contra um muro.
Continua...
Continua...
0 Comentários:
Postar um comentário
Preencha o formulário e badabim badabom!