Tchau, Mãe Por Cândida Carpena



Pareceu não se tratar apenas de uma mãe sem culpa ou um de pai atuante. Talvez fosse só mais um momento comum de levar a pessoa até a rodoviária, ajudar com a bagagem, abraçar, desejar uma boa viagem e dar um “tchau, mamãe”.


Ao lado da bolsa, necessaire e mochila= estourando o zíper por sinal=, eu bebia água e observava a tradicional cena de embarque. Mas algo me dizia que não era bem assim... fiquei ali uns minutos como figurante, uma posição interessante, aliás, para quem escreve. Somos quase invisíveis e conectados com tudo ao redor.

Seguindo o episódio...se eu fosse citar uma só palavra seria “normalidade”. Por que não seria normal uma criança se despedir da mãe por alguns dias? Não fiquei sabendo a duração da viagem, mas supondo que fosse uma semana, é pouco ou muito tempo de afastamento? Afinal, iriam manter contato por chamadas de vídeo, áudio e as ligações telefônicas, quase esquecidas atualmente.

Não escutei promessas ou pedidos de brinquedos, nem uma quebra no acordo de não comer doces todos os dias, videogame ou tv sem fiscalização, redução de banhos e desencontros com a escova de dentes.

Não tiveram abraços muito apertados, 500 beijos e mais um, ou queixinho tremendo, nem repetidas orientações ao pai. Estranho? Quem sabe! E eu ali, como uma espiã, discretamente observando e tentando memorizar; para estar aqui agora, compartilhando contigo.

Pela tranquilidade do homem daria conta do recado, a missão agora seria dele 100% por algum tempo. Entre eles eram só sorrisos, carinho na cabeça; um jeito real, concreto de ser vivido.

E eu lá. Parada olhando mudando de posição, para não chamar a atenção, e ser mal interpretada. No fundo estava encantada. Cenas como aquela mexem comigo e me levam aos bastidores=como sempre= das relações humanas.

Como sou em geral, a última a subir no ônibus, a mãe em questão já estava na fila e lá dentro não a vi mais. De uma coisa tenho certeza=meu instinto falando= tudo iria dar certo em Pelotas e no seu destino também. Quando estamos em paz é assim que acontece.

Sempre fico “colada no para brisa”, como um daqueles chaveiros batendo no espelho retrovisor, sabes? Gosto de ir vendo tudo, “antenada” por onde quer que passe o veículo que me transporta.

Ainda segui no contexto, agora em pensamentos. O que define uma despedida saudável? Sem gerar ansiedade, medo ou dor? A frequências, costume ou ao contrário, o fato de ser a 1º vez e não ter vivido antes. Uma preparação anterior, os contatos a distância diários, a normalidade da rotina temporária, o autocontrole e naturalidade dos pais, nesse caso.

De que temos receio mesmo? De não ver mais a pessoa, de ficar sós; a saudade incomoda ou ter que fazer as coisas e não saber, ou do desconhecido.

Não nos é ensinado, não aprendemos a amar de longe. Confiar que somos amados embora por certo tempo não sintamos o toque na pele, a presença do outro.

Dar tchau pode ser bom como um oi.

Se eu estiver certa aqueles adultos aprenderam e estão ensinando ao filho. Isso é algo belo e faz um “bem danado”, fez até para mim. Pouco antes dei tchau para minha, mas também.

Fomos companheiros de despedida; em posições diferentes, mas repletos de amor. Sabendo que daqui a pouco, a seu tempo, daremos um oi. Boa viagem





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